Em homenagem ao Dia do Escritor, conversamos com Giselle Vargas, uma das autoras (que é ilustradora também) dos nossos livros sobre Artes. Confira que bate-papo interessante e enriquecedor com a artista que consegue enxergar e transmitir com clareza a sensibilidade de grandes pintores, como Van Gogh. Leia a seguir e se surpreenda!
Craque da Leitura: Em seus projetos, como se dá o diálogo entre textos e ilustrações?
Giselle Vargas – A ilustração atualmente é uma linguagem e não somente uma redundância do texto, como nos primeiros livros ilustrados no Brasil, mas também ajuda a potencializar o que foi transmitido. Como linguagem visual, tanto quanto a verbal, ela pode conter informações articuladoras do que está sendo transmitido. Procuro inserir ideias não faladas que serão “lidas” através da imagem para que, junto com o texto, seja composto o entendimento da história. Também procuro dar coerência a esse acréscimo, para que o equilíbrio entre imagem/texto seja um facilitador para a compreensão da ideia pela criança.
CDL: Como foi a concepção dos livros sobre Pintura?
GV – Fiquei muito à vontade para escolher os temas. Selecionei os meus preferidos, aqueles que eu tinha certeza que saberia contar. Como contador da história, o autor tem que ter intimidade com o assunto. É como sentar numa roda com crianças, falar sobre algo que eles não conhecem, e saber responder as perguntas com segurança.
Acredito que a arte deve ser apresentada à criança livre do julgamento de “belo” ou “feio” focando sobre o “porquê foi feito” e o melhor jeito de fazer isso é apresentar de forma transparente o artista, o “fazedor” da arte, para que ela perceba que arte é uma linguagem, uma expressão do nosso ser. Procurei mostrar como o artista vê e representa o mundo, me preocupando em oferecer informações que contribuíssem para a formação do pensamento crítico dos pequenos leitores.
Cito como exemplo o Livro do Nível 5, sobre Van Gogh. Falar sobre ele não é só falar de sua arte, é contar sobre um ser humano complexo, que se dedicou em fazer sua voz ser ouvida através de pinceladas. Ele trabalhou todos os dias com essa verdade. Há um trecho no livro que faço uma referência rápida sobre a tristeza no olhar do artista. Fiz questão de não omitir o assunto complexo que envolve as questões emocionais de Van Gogh, citando a condição de profunda busca interior que permeou sua vida. Sem focar nesse aspecto, eu indiquei um caminho sutil que mostra que a arte vem de dentro, e os olhos azuis de Van Gogh eram uma janela para esse seu interior.
CDL: Como foi o processo de produção desses livros ao combinar o conteúdo com a proposta pedagógica e viabilizar o diálogo texto-ilustração?
GV – Recebi ajuda valiosa da equipe no que se refere ao olhar pedagógico, como por exemplo o ritmo e extensão do texto ou quais as competências na aquisição de linguagem relativas à cada idade. Juntei a isso a minha experiência em ilustrações de livros didáticos. Ao longo de muito tempo venho acompanhando de perto, ao ilustrar coleções de livros didáticos, a comunicação entre professor/aluno, suas sutilezas, e sobretudo qual o melhor caminho na formulação e apresentação das ideias para obter os melhores resultados na aprendizagem. Por fim, ter o privilégio de escrever e ilustrar o mesmo livro me deixou livre para trazer mais dinamismo ao processo de criação.
Parabéns Gisele. Sua capacidade não nos surpreende. Continue assim produzindo cultura para este país tão carente.