Denise Mazzuchelli, autora de alguns dos livros que estão no app, conta que as histórias de heróis e vilões ensinam as crianças a lidarem com os diversos tipos de emoções vividas pelo personagem. Denise também é mãe da Yasmin, do João e da Morena.
Qual a importância de apresentar histórias de heróis e vilões para crianças? O que elas podem aprender com isso?
Denise Mazzuchelli: Crianças amam histórias e elas são uma ponte para interações profundas e importantes na infância. Histórias de heróis e vilões são particularmente interessantes porque evidenciam conflitos e eles são parte da vida, desde sempre. Os conflitos entre heróis e vilões podem ensinar os pequenos a lidarem com suas dores, emoções e frustrações. Além disso, podem possibilitar o desenvolvimento de valores, o exercício da empatia, da regulação emocional, da capacidade de predizer o que virá e de levantar possibilidades alternativas diante de problemas.
Por que você optou pela escolha dos personagens: Pinocchio, Hobbit, Feiticeira de Nárnia, Matilda e Capitão Gancho?
DM: Não foi fácil escolher apenas cinco no universo de tantos heróis e vilões fascinantes da literatura. O briefing recebido trazia sugestões e elas foram determinantes para minha decisão. Um dos meus livros favoritos é “O visconde partido ao meio” de Ítalo Calvino e ele foi, em grande medida, uma inspiração para trazer esse diálogo entre o bem e o mal como pano de fundo das histórias. Optei por trazer personagens que propiciassem um mergulho mais profundo na percepção de “bom” e “mau”, “certo” e “errado”. Escolhi protagonistas com a ambiguidade própria do humano e que, de certa forma, pudessem fazer o leitor questionar “será que essa atitude é de um herói?”, “será que esse vilão é mau mesmo?”. O Pinóquio, por exemplo, errou inúmeras vezes, foi irresponsável, injusto com seu pai e criador e mesmo assim (veja “e”, não “mas”) foi consagrado herói. Por outro lado, quem poderia imaginar que o Capitão Gancho teria a sensibilidade de apreciar rosas e que amava recitar Shakespeare nas madrugadas?
Após a alfabetização da criança, o que os pais podem fazer para estimular o desenvolvimento de um bom leitor?
DM: As evidências mostram que o que acontece muito ANTES da alfabetização das crianças é essencial para proporcionar o desenvolvimento de um bom leitor. Portanto, se eu puder dar um conselho é: “leia para seu bebê”, sim, eu disse bebê. Leia desde sempre, leia muito, faça disso uma rotina. Tenha livros ao alcance da criança desde que ela é muito pequena. A leitura na primeira infância é preditora do desenvolvimento da criança aos 10 anos de idade. Isso é muito poderoso. O contato com livros tem realmente um poder transformador e fundante para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e não cognitivas. Portanto, leia desde o berço, tenha livros em casa, converse sobre eles e, principalmente, leia perto dos seus filhos. As crianças aprendem muito mais observando o que fazemos do que ouvindo os conselhos que damos.
E se seu filho “não gosta de livros”, o que fazer?
DM: Leia junto com ele. Escolha sua história favorita, ou seu livro preferido e leiam juntos. Coloque essa atividade como parte da rotina: todos os dias antes de dormir, ou todos os dias após o almoço. Se seu filho já é crescido, você pode criar um ritual de leitura conjunta, cada dia um capítulo, ou duas páginas. O livro é um pretexto para nos aproximarmos das crianças. Se você usar um pretexto com o qual você tem uma ligação afetiva, há grandes chances de vocês construírem momentos inesquecíveis de cumplicidade e afeto.
Como os pais podem incentivar a criança a se interessar pelos livros em meio à grande concorrência da tecnologia e da internet no dia a dia?
DM: Insistindo e estabelecendo limites para os eletrônicos. Além do mais, é essencial ter livros em casa, ao acesso das mãos. Se preciso for, que haja um combinado formal, um acordo familiar: entre tal e tal hora nós iremos ler algo – juntos ou separados. Nesse caso, é imprescindível que haja coerência: a regra vale para crianças e adultos. Todos irão ler, todos deixarão seus eletrônicos no “estacionamento de celulares e tablets” (vocês podem, inclusive, produzir uma caixa para isso).