O ilustrador que gosta de criar inspirado no humor e em sua visão pessoal, manda um recado para os nossos craques: “o segredo é estar sempre praticando e estimulando a imaginação!”
O brasileiro Marcelo Badari é um apaixonado por ilustrações desde criança. Fazia uns desenhos aqui e ali, mas não imaginava que, um dia, eles fossem publicados em revistas, livros, pôsteres, camisetas, jornais e sites no Brasil, Estados Unidos e Europa.
Inspirado em ideias e personagens, utilizando o humor e a sua visão pessoal, levou esse talento para a Irlanda, onde costumava desenhar com penmarkers em cartões e depois vendê-los em Temple Bar e The Dublin Flea Market. De volta ao Brasil, começou a fazer oficinas de arte usando essa técnica e oficinas de arte de brinquedo.
Nessa entrevista, Badari conta mais sobre a conversa entre texto e ilustração.
Craque da Leitura: Em seus projetos, como se dá o diálogo entre textos e ilustrações? Baseado em sua experiência e nas orientações que recebeu, como foi a concepção dos livros “Os Tipos de Casas”?
Marcelo Badari: Procuro com a ilustração sintetizar a ideia geral do texto. Geralmente, é uma palavra-chave, uma cena, uma ação, alguma coisa que sintetize todo aquele texto. No caso do livro “Os Tipos de Casas”, o texto era bem curto e direto (pergunta e resposta). Então, trabalhei de maneira que a ilustração acompanhasse esse ritmo.
O diálogo depende do tipo do texto. Nesse livro, por exemplo, a ilustração seguiu esse esquema.
CDL: Como foi o processo de produção desse livro ao combinar o conteúdo com a proposta pedagógica e viabilizar o diálogo texto-ilustração?
MB: Foi de seguir o texto. No livro “Os Tipos de Casas”, eles especificaram o tipo de casa que ia ser: um iglu, uma oca, construção de pau a pique, uma de madeira… Por exemplo, a de madeira eles falaram “casa tipo a de colonos alemães”, a de pedra foi “tipo uma casa inca de dois andares”, a de tijolo “uma casa mais moderna”. Então, baseado nisso, eu pesquisei as imagens para ter ideia como que seria uma oca, um iglu… E daí, eu fui desenhando em cima disso, com a ideia de pergunta-resposta do texto.
CDL: Como você captou o texto, as orientações recebidas e os visualizou com as ilustrações?
MB: Fui pensando como se eu fosse a criança lendo o livro. Na última pergunta (do livro “Os Tipos de Casas”) “E a sua casa? Ela é feita de quê?”, fiz várias ilustrações. Na página seguinte, tem “Conta pra mim. Eu quero conhecer.”. O que eu imaginei? A criança vai folhear o livro e ver o tipo de material que tem a ver com a casa dela. Ou ela vai perguntar para os pais ou ela mesma vai sacar: “- De madeira não é, de pedra não é, deve ser essa última de tijolo…” E então eu tive a ideia de desenhar o menininho (com o livro de verdade na última página). Até vou mostrar no vídeo como ficou o desenho com o espaço para ser colocado o livro. Quando eu mandei para a Designer do livro, falei pra ela “Vou deixar aqui um espaço e quando você finalizar a capa, jogue a imagem da capa nesse espaço.”. A impressão é que ele esteja segurando mesmo o livro real.
CDL: Qual o recado que você manda para os nossos Craques da Leitura?
MB: Craques e futuros craques, o segredo é estar sempre lendo. Frequentem bibliotecas, livrarias… Mesmo na casa dos pais ou amigos ou conhecidos que tenham alguns livros, peçam para ver. Folheando os livros, livros com ilustração você vê a cena, como ela resumiu o texto, o que você acha que deveria ter também a mais na ilustração. Porque a ilustração não é um fim. Você pode ler, ter uma outra imagem na sua cabeça e pode dialogar com a ilustração que você viu. De repente, pode acrescentar alguma coisa. Isso tudo é um estímulo para a sua imaginação. Quando a gente pega um livro com bastante imagem, um livro infantil, é bem legal você ver. Nesse caso, a ilustração faz um apelo para você querer pegar aquele livro, entrar na história, naquela aventura… Se gostar de desenhar, faça os desenhos dos personagens e das cenas do livro que você viu. Se o livro não tem ilustração, imagine qual seria esse personagem, como seria essa história, de que maneira você colocaria no papel. Você pode desenhar uma cena que de repente faça você lembrar da história, fique uma recordação. Tudo é imaginação mesmo. Você ler um texto e procurar interpretar aquele texto de uma outra maneira. De repente, desenhando ou até escrevendo uma outra coisa, uma poesia, por exemplo. O segredo é esse mesmo: é estar sempre praticando e estimulando a imaginação. Esse é o lance dos craques da leitura.